Como o barulho afeta crianças e adultos com TDAH?

Para quem tem TDAH, cada estímulo sonoro pode se tornar um obstáculo. Sendo assim, barulhos constantes, como conversas paralelas, buzinas ou latidos, atrapalham a atenção e intensificam sintomas como agitação e impulsividade. Além disso, a dificuldade de filtrar estímulos torna o ambiente ruidoso um verdadeiro desafio.

Dessa forma, compreender o impacto do barulho e do TDAH é essencial para pensar em soluções que ajudem a promover foco e bem-estar. Um ambiente acusticamente equilibrado pode transformar a rotina e aliviar o sofrimento causado pelo excesso de barulho.

Neste post, explicamos por que o barulho afeta tanto crianças quanto adultos com essa condição, o que dizem os estudos, como o ruído branco pode ser um aliado e quais são as melhores estratégias para criar ambientes mais favoráveis ao foco e à qualidade de vida.

O que é TDAH?

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que compromete a forma como o cérebro regula a atenção, o controle dos impulsos e a atividade corporal. Os primeiros sinais geralmente surgem na infância e podem persistir até a vida adulta, afetando diversos aspectos da rotina.

Estudos indicam que entre 5% e 15% das crianças são diagnosticadas com TDAH, com predominância no sexo masculino. Embora sua origem esteja ligada a fatores genéticos e neurológicos, o ambiente também exerce grande influência na manifestação dos sintomas.

“O TDAH não tem uma causa única específica, mas fatores genéticos (hereditários) estão com frequência presentes. Pesquisas indicam ser provável que o TDAH envolva anomalias dos neurotransmissores (substâncias que transmitem impulsos nervosos no cérebro).”

Manual MSD, Saúde para a Família

Sendo assim, locais de convivência ruidosos, desorganizados ou excessivamente estimulantes podem dificultar o foco, agravar a inquietação e gerar frustração. Por isso, entender o impacto do contexto é fundamental para promover adaptações que favoreçam o bem-estar e a qualidade de vida de quem convive com o transtorno.

Sinais comuns do TDAH

Pessoas com TDAH podem vivenciar o transtorno de formas variadas, com combinações diferentes de sintomas que afetam seu comportamento, aprendizado e relações. Essa diversidade é o que define os subtipos do TDAH, que ajudam a compreender como o transtorno se manifesta em cada indivíduo.

Essa divisão é essencial não apenas para o diagnóstico, mas também para traçar estratégias personalizadas de tratamento e intervenção no ambiente. A seguir, separamos os sinais mais comuns:

• Desatento: dificuldade em manter o foco, seguir instruções, concluir tarefas, organizar rotinas.
• Hiperativo/Impulsivo: agitação constante, dificuldade de esperar a vez, falar demais ou interromper os outros.
• Combinado: presença de sintomas tanto de desatenção quanto de hiperatividade/impulsividade.

“Pode ser ainda mais difícil diagnosticar o TDAH na idade adulta. Os sintomas podem ser semelhantes àqueles dos transtornos mentais, incluindo os transtornos do humor e os transtornos da ansiedade.”

Manual MSD, Saúde para a Família

Na vida adulta, o TDAH se expressa de forma mais sutil, mas ainda assim bastante impactante. Dificuldades como desorganização, problemas para cumprir prazos, oscilações de humor e desafios em relações interpessoais são comuns. A regulação emocional também pode ser prejudicada, levando a situações de frustração ou desânimo frequente.

Entenda como o barulho afeta quem tem TDAH

Como já vimos, o ambiente ao nosso redor exerce uma influência significativa sobre o comportamento, e isso é ainda mais evidente para quem convive com o TDAH. Sons constantes, inesperados ou intensos podem desencadear reações negativas como ansiedade, irritação ou perda de foco, dificultando tarefas simples do dia a dia.

Esse cenário se torna ainda mais complexo quando essa condição está associada a outros transtornos, como TEA, TBH ou Alzheimer. Nessas condições, a sensibilidade ao som costuma ser amplificada, tornando o ambiente ruidoso um desafio constante. A seguir, entenda como o barulho afeta diretamente a rotina de quem vive com TDAH.

• Dificuldade em filtrar estímulos: Quem tem TDAH tende a ter uma sensibilidade maior aos estímulos do ambiente. Isso significa que, em um local com sons simultâneos, a pessoa pode ter dificuldade para ignorar o que é irrelevante e focar no essencial. Esse ruído de fundo constante “disputa” a atenção com a atividade que está sendo realizada.

• Sobrecarga sensorial: Ambientes barulhentos podem causar uma verdadeira sobrecarga sensorial em pessoas com essa condição. A interação entre sons altos, luzes fortes, cheiros e movimentação visual intensa pode levar a agitação, irritabilidade, frustração e ansiedade, afetando diretamente o bem-estar e o desempenho.

• Redução do foco e da produtividade: Com a mente constantemente “puxada” para diferentes direções por estímulos sonoros, manter-se concentrado em uma tarefa se torna mais difícil. O barulho pode comprometer a produtividade, aumentar o tempo de execução de atividades simples e provocar fadiga mental.

• Desenvolvimento de outras síndromes: Estudos mostram que pessoas com TDAH têm menor tolerância ao barulho. Desse modo, algumas desenvolvem condições como hiperacusia (percepção exagerada da intensidade sonora) ou misofonia (aversão a sons específicos).

Como adaptar o ambiente para favorecer a concentração?

O ambiente em que vivemos pode ser tanto um facilitador quanto uma barreira para quem convive com o TDAH. Elementos como iluminação, organização visual, ruídos e até a paleta de cores impactam diretamente na forma como essas pessoas lidam com o foco, o planejamento e o controle emocional.

Sendo assim, ao compreender as dificuldades enfrentadas no dia a dia, é possível ajustar o espaço físico de forma estratégica, criando um ambiente funcional, acolhedor e livre de estímulos que agravam os sintomas. Pequenas mudanças podem representar grandes melhorias na qualidade de vida.

A seguir, apresentamos adaptações práticas que contribuem para tornar o ambiente mais propício à concentração e ao bem-estar de pessoas com TDAH.

Reduza estímulos sensoriais

A sobrecarga sensorial é uma das principais vilões da concentração em pessoas com TDAH. Luzes fortes, excesso de informação visual e barulhos simultâneos criam um ambiente que confunde, distrai e eleva os níveis de estresse, dificultando a permanência em tarefas por longos períodos.

Para amenizar esse impacto, é essencial pensar em ambientes que favoreçam o foco, com menos poluição visual e auditiva. Iluminação difusa, decoração equilibrada e uma boa circulação de ar ajudam a compor um espaço mais estável e acolhedor.

Adote ruído branco ou sons relaxantes

O ruído branco tem ganhado destaque como uma alternativa para suavizar os impactos dos sons desconexos no ambiente, especialmente para quem possui TDAH. Equipamentos de sons ou apps especializados ajudam a criar uma camada sonora constante que mascara ruídos imprevisíveis.

Estudos sugerem que essa estratégia pode favorecer a concentração ao reduzir a competição entre estímulos auditivos e a tarefa em execução. A hipótese central é que esse som atua sobre os circuitos neurais com baixa transmissão de sinal, um fenômeno conhecido como ressonância estocástica.

Explore recursos visuais

Pessoas com essa condição, normalmente, costumam ter dificuldade para organizar ideias e acompanhar prazos. Nesse contexto, o uso de recursos visuais se torna um grande aliado na gestão das tarefas do dia a dia, por exemplo, quadros, calendários e listas.

Esses elementos funcionam como pontos de referência no ambiente, oferecendo previsibilidade e facilitando o planejamento. Quando bem posicionados, evitam esquecimentos, reduzem a sobrecarga mental e auxiliam na tomada de decisões.

Invista em isolamento acústico

Janelas e portas antirruído, atuam como barreiras físicas para sons externos, ajudando a preservar a tranquilidade nos ambientes internos. Esse tipo de solução é ideal para quem busca manter a concentração em espaços com muito movimento ou ruído constante.

Para pessoas com TDAH, esse isolamento acústico pode representar uma mudança significativa na qualidade de vida. Pois, a redução de barulhos imprevisíveis diminui a sobrecarga sensorial e contribui para a regulação emocional, melhorando o foco e o bem-estar.

Seja em ambientes de estudo, trabalho ou descanso, o controle sonoro se torna uma ferramenta essencial para favorecer a produtividade. Dessa forma, investir em estruturas que minimizem a poluição sonora é um passo importante para criar rotinas mais equilibradas e funcionais.

Use técnicas de relaxamento

Práticas como respiração profunda e meditação têm se mostrado eficazes para acalmar a mente e promover autorregulação emocional. Para pessoas com essa condição, esses exercícios ajudam a reduzir a impulsividade e a ansiedade provocadas pelo excesso de estímulos sonoros.

“Esta última funciona como um treinamento da mente, em que se aprende a ter maior consciência de seus pensamentos e emoções, podendo direcionar sua atenção para o foco desejado.”

Paula Souto, psiquiatra da Afya Educação Médica de Fortaleza

Ao treinar a mente para manter o foco no momento presente, essas técnicas fortalecem a capacidade de atenção. Além disso, a prática constante melhora o equilíbrio emocional e contribui para uma convivência mais tranquila com os sintomas do TDAH.

Quando procurar ajuda profissional?

Se o barulho compromete sua qualidade de vida ou a de seu filho, buscar orientação profissional não é apenas indicado, é fundamental. Psicólogos, psiquiatras e médicos podem diagnosticar a condição e oferecer o tratamento necessário. 

Esse acompanhamento garante que o tratamento seja individualizado, considerando as necessidades específicas de cada pessoa. Medicamentos, terapia comportamental e intervenções no ambiente podem ser combinados para resultados mais eficazes.

Ademais, mesmo com estratégias complementares, como o uso de ruído branco ou adaptações espaciais, é o suporte profissional que oferece o direcionamento adequado. O diagnóstico preciso e o acompanhamento constante são essenciais para promover qualidade de vida e autonomia a quem convive com o TDAH.

Encerrar o dia exausto por não conseguir manter o foco é realidade para muitas pessoas com TDAH. O excesso de barulho não apenas dificulta tarefas cotidianas como estudar e trabalhar, mas também contribui para crises de ansiedade, irritabilidade e fadiga mental.

No entanto, é possível minimizar esse impacto com mudanças simples, como a adoção do ruído branco, o uso de técnicas de relaxamento e adaptações no ambiente. Esses recursos, aliados ao acompanhamento profissional, ajudam a construir uma rotina mais equilibrada e funcional.

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